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Como é empreender em impressão 3D?
Ano passado eu fiz um vídeo no YouTube falando sobre como cobrar por impressão 3D. E claro, fui muito criticado. Eu fiz o estudo de preço que uma empresa faria, levando em consideração coisas absurdas, como: ter um salário fixo, pagar aluguel, internet, água e luz, lucro, pagar impostos, amortização de investimentos, e para surpresa de ninguém, a hora que a gente coloca tudo isso numa balança, mesmo com uma Ender 3, de 2000 reais, na época, você deveria cobrar ao redor dos R$ 75,00 por hora. A comunidade maker chegou a me escrever falando que eu “vivia no mundo de Bob”, em referência a um desenho dos anos 90 de uma criança que era muito imaginativa, e até arrumar o quarto virava uma aventura. Muito parecido em roteiro com “A hora de Justin” hoje no netflix kids.
Bom, eu sou muito imaginativo mesmo, e por vezes fico olhando para uma parede ou para a impressora 3D trabalhando, por algo entre 2 minutos e um dia todo, mas esse não é o ponto. O ponto é que a comunidade reclamava que, e eu cito, “já tenho dificuldade em vender vazinhos cobrando 15 reais a hora e esse sujeito quer que eu cobre 75!?”. É claro que o que ninguém leu é que se você tem outro emprego, se a impressora é um extra, e se você não paga aluguel de um escritório, seus custos são outros. Além disso, se entramos na vereda do “extra”, isto é, a impressora é um caixa 2 que eu faço enquanto trabalho e durmo, qualquer valor que pague a impressora e o filamento e sobre algo para você, é literalmente, lucro. O nosso mercado brasileiro ainda não está totalmente educado em empreendedorismo, e é fácil entender isso, vivemos num país capitalista, mas é só algum influencer fazer dinheiro, ficar rico, que a comunidade sai matando o cara. Vivemos num país que é “errado” ganhar dinheiro, que se é para a amigo não se deve cobrar, e que quando o governo adiciona uma matéria optativa de empreendedorismo nas faculdades públicas, os alunos fazem greve ao invés de simplesmente ignorar o ocorrido.
Para empreender com qualquer segmento, e impressora 3D não é exceção, você precisa, antes de comprar a impressora, fazer um plano de negócio. Você precisa definir o que quer vender, para não se peder numa navegação sem fim pelo Thingiverse ou Thangs, de imprimir objetos inúteis que se acumularão pela casa. Definindo o público alvo, definir o nome da empresa, a imagem da empresa, o site da empresa que chame a atenção daquele público alvo. Não dá para ter uma empresa chamada 3DTech e vender brinquedos para cachorros. A frase é batida, mas vou repetí-la aqui: clientes querem o quadro na parede, não o martelo. A impressora é a ferramenta que fará o produto, mas para o cliente, não importa como o produto dele foi feito, ele quer saber se é bom, e se é barato. Se você vai fazer em sabonete num molde de silicone ou em argila numa daquelas mesas que giram enquanto você modela a argila, isso não importa. Por exemplo, para soluções dentais, incluir isso no nome da sua impresa faria sentido, “Odontotech, soluções em próteses e laboratórios ondotológicos”.
Ao fazer o plano de negócios, com um mercado definido, é sua chance de pesquisar por concorrentes desse segmento, ver o que oferecerem, por quanto e em quanto tempo. Ver o reclame aqui, o que as pessoas que compram dessas empresas reclamam, é do prazo? Do preço? Do atendimento? Você poderá fazer melhor que seus concorrentes nesses pontos?
Por fim, ao invés de embarcar em tudo que sua concorrência oferece, se você está recém começando, comece a oferecer algo que você domina bem, não tente abraçar todo o portfólio. Crie parceiros. Se oferece para alguns dos seus concorrentes para ser terceiro em algumas dessas aplicações por eles. Se aprimore no que faz e crie o portfólio do que fez.
Acima de tudo, não tenha medo de estabelecer um preço que te faça feliz. Nem relógio trabalha de graça e até para dar as horas, tem que ganhar corda ou bateria. E não tenha vergonha de impor seu preço. Vá por mim, o cliente que mais negocia preços é aquele que mais reclama depois, e ai vem a última parte sobre empreender que é aquela que eu realmente queria falar no episódio de hoje:
Quando você está empreendendo, você irá, invariavelmente pegar algum projeto mais longo, algo que será mais consultivo, e logo você descobrirá o maior problema de empreender no país não está nos impostos, mas sim, em uma verdade universal: você na sua empresa ocupa todas as cadeiras, a engenharia, contabilidade, vendas, assistência técnica, e enquanto faz o papel de uma destas cadeiras, não faz as outras. Vender é difícil, mas é ainda mais difícil quando você está ocupado em outro projeto, em resumo, enquanto você está em um projeto, você não vende, enquanto você vende, você não faz projetos. Equilibrar sua agenda entre esses papéis é fundamental para prosperar enquanto você for um pequeno empreendedor. Eu falhei nessa agenda nesse último mês todo, praticamente. E claro que minha vida virou de ponta cabeça, o podcast não saiu na data, e em meus projetos, eu posso afirmar que estou atrasado em quase todos eles – menos na revista, caros assinantes, não se preocupem com a revista – mas no geral, eu quero deixar algumas dicas sobre, como se programar para agir enquanto empreender sozinho ou com equipe pequena, para que você não cometa meus erros:
– Lei número 1: nunca ocupe sua agenda 100%. É sério, no calor de fazer e acontecer, a gente quer preencher a agenda, reuniões, visitas a clientes, terminar aqueles projetos. E então basta um pneu furado, que você se enrola por semanas nas tarefas. Sempre deixe folgas no meio da manhã, depois do almoço, no meio da tarde, antes do fim do expediente, para te dar tempo para ir “um pouco à mais” nesse projeto ou naquele, ou simplesmente, respirar e pensar no que precisa ser feito.
– Lei número 2: se você ocupa todas as cadeiras da sua empresa, contabilidade, engenharia, vendedor, técnico e estagiário (sempre deixe esse papel para receber a culpa pelos erros! hehehe), crie horários para ser cada um desses personagens. E crie bons horários. Não adianta ser seu próprio contador depois do horário bancário ou em fins de semana, quando nada pode ser feito à respeito. Não adianta colocar o boné de vendedor ates das 8 ou depois das 18. Não adianta ser o técnico da manutenção da impressora, durante os horários comerciais. Você pode, por exemplo, reservar as manhãs para ligações e emails comerciais, e os finais da tarde para retornos e chamadas perdidas, antes das 18, claro. Das 10 às 12, ser seu contador, e sair para o almoço sabendo se você precisará ir no banco ou em alguma loja, para aproveitar a hora do almoço. Deixar trabalhos longos imprimindo logo cedo, para terminarem assim que você volta do almoço e poder agir sobre esses projetos. E das 14 às 16 agir consultivamente nos projetos vendidos. (e o que precisar de mais tempo, depois das 18, noites e finais de semanas, quando ser o “engenheiro”, não te bloqueia de ser o vendedor, o técnico, o financeiro e, claro, o estagiário.
– Lei número 3: Escreva tudo. Eu sempre confiei na minha memória, mas podem ser os 40 anos, pode ser o número de projetos, e logo me vi perdendo horários e atrasando em reuniões. Colocar tudo num planner, em papel, que fique sobre a mesa é ótimo. Terminou uma ligação e o cliente pede para retornar às 16? Anota no papel na sua frente. Alguém pede para ligar de novo na próxima semana? Anota no papel referente à próxima semana. Teve uma ideia para resolver aquele seu problema durante a fila no banco? Escreva (no smartphone, num bloco de notas).
Existem algumas regras sobre organização que eu sigo desde os tempos imemoriáveis da Palm, uma forma de smartphone sem o phone, que era baseado em 4 aplicativos chamados PIM – Personal Information Management – ou Gestão da Informação Pessoal. Todo telefone tem esses mesmos 4 apps, mas muita gente nem usa mais. E ai mora o descontrole – tomem por experiência pessoal – Eu fui deixando de atualizar as agendas das pessoas, com seus aniversários e endereços, por que achei que estava tudo na rede, e de repente, me vi sem internet e sem as informações que eu precisava. Eu deixei de anotar as tarefas para usar um App, e o app saiu para manutenção no dia e hora que eu precisava de uma informação que estava la dentro. Eu deixer de usar o bloco de notas por que o Notes do icloud sincronizava tudo que eu tinha, e quando fechei a assinatura do icloud, descobri que as notas do meu laptop foram embora junto com as que estavam online. Os quatro fundamentos do PIM: Agenda de endereços, agenda de compromissos, tarefas e notas salvam vidas, mas não confie totalmente nas suas cópias online. Basta trocar de iPhone para Android para perder tudo.
Então, hoje falamos sobre as meselas e dores de empreender, em qualquer que seja o segmento que você atue, até com impressoras 3D, vejam só, e espero que estas dicas possam ajudar vocês a empreenderem melhor. E se as dicas falharem com vocês, descubram aquelas que realmente funcionam na sua rotina. E se você falharem com suas rotinas, como eu falhei, não tenham medo de cancelar tudo por 1 semana, arrumar a casa, e tentar sair melhor do que entraram dessa confusão. Sabe aquela pessoa que tropeça mas não chega a cair, e vai tropeçando e tentando nadar no ar por uns 10 metros e, na maioria das vezes, cai de forma ainda pior do que seria o tropeço, talvez levando de cara um garçom que tinha um bolo nas mãos? Tentar arrumar sua agenda, sem interrompe-la é isso. Outra metáfora, é como arrumar o avião durante o vôo. Pode até dar certo, mas na maioria das vezes, é só uma má ideia.
Nos recadinhos da semana:
– Nossa revista passou de 2000 downloads, já temos quase 50 assinantes e a próxima edição vai ficar incrível. Eu já li o artigo do Professor Willons Santos e sei que vocês vão curtir muito. E tem muito mais vindo por ai.
– Esta chegando a OdontoWeek, a semana do aprofundamentos em biofabricação aplicada a odontologia, é só ir no site www.bioedtech.com.br e fazer sua inscrição, são mais de 8 horas de conteúdo ao vivo, online, acesso à plataforma por 3 meses, e é baratinho! Com pesquisadores do mundo todo compartilhando tudo que sabem. É nos dias 20, 21 e 27 de outubro.
Por fim, quero agradecer à minha família, pelo apoio e impulso que têm me dado com a revista, o podcast e esse monte de projetos pessoais que invento de fazer. Sem a ajuda de cada um deles, um impulso, uma crítica, nada disso estaria acontecendo. Literalmente às vezes, como esse microfone que estou usando hoje, que foi um presentão meu irmão, o Gustavo Campos. Aqueles que me conhecem há mais tempo, sabem que tive aula com meu pai na faculdade, e que ele me deu DP – dependencia – na matéria dele, o que todo mundo esquece, é que esse senhor sempre me deu aula, lá na faculdade foi apenas algo formal, mas sem sua correções e apontamentos, não imagino qual o grau que o podcast estaria hoje. E a minha mãe, que tem se tornado uma especialista em impressão 3D, fazendo longos e acertados reviews a cada episódio do youtube, do podcast ou artigo publicado. Fiquei realmetne feliz e surpreso de ver que ela já está até me corrindo nos artigos técnicos, sinal que sua atenção não tem sido mera formalidade, e ela está de fato, se formando em manufatura aditiva. Obrigado à minha esposa, que me deixa gravar esse podcast e cuida de dois diabos da tasmânia – meu filhos gêmeos – para que eu possa gravar esse programa relativamente sem interferência.
Uma coisa que não falei antes, mas que não posso encerrar o programa sem dizer: ao ter sua empresa, saiba que você leva com ela, direta ou indiretamente, a sua família toda com você. Se você tiver a sorte que sua família te apoie e te dê ajuda no processo, a jornada será com certeza mais suave. Eu não posso dizer que ouvi todos os conselhos que minha esposa me deu, mas posso garantir que não tomei uma só decisão sem ouvi-la ao menos.